50/50? A verdade sobre o género no gaming que ninguém vê

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Vamos começar pelos factos que provavelmente já conheces: estudos globais e relatórios da indústria dizem-nos há anos que a população de jogadores está dividida quase perfeitamente ao meio. Segundo os dados mais recentes de 2024 e 2025, as mulheres representam 45% a 48% de todos os jogadores no mundo — por exemplo, a ESA reporta 48% nos EUA, enquanto a Newzoo e a Statista indicam valores globais semelhantes (45-46%).

Soa como um triunfo da igualdade no mundo do entretenimento, não é? 😏

Mas se já entrastes num servidor de Counter-Strike 2, numa lobby de Dota 2 ou numa raid de World of Warcraft, certamente notaste: nesses ambientes, a dominância masculina é esmagadora — os géneros FPS e MOBA têm apenas 4-14% de mulheres.


Então, onde foram parar todas essas jogadoras que as estatísticas mencionam?

A resposta é simples: o problema está na definição de “jogador” e nos géneros de jogos.

📱 Segredos das estatísticas: onde estão as jogadoras?

A chave para entender o enigma do 50/50 é perceber que estas estatísticas incluem todas as formas de entretenimento digital. Isso significa que são consideradas:

  • Jogos móveis (gaming casual): como Candy Crush, Homescapes, The Sims Mobile ou jogos de lógica simples. Mulheres a partir dos 30 anos e mais velhas frequentemente constituem a maioria nesta categoria (até 63% dos jogadores móveis são mulheres), e são muito ativas, dedicando tempo regularmente ao jogo.
  • Jogos sociais: jogos de navegador simples, de cartas ou integrados em plataformas sociais.

Nestas categorias, a população feminina de jogadoras não é apenas grande, mas muitas vezes dominante. A estatística 50/50 é, portanto, verdadeira — mas refere-se ao jogador que, por exemplo, joga 20 minutos por dia no telemóvel, e não necessariamente ao jogador “hardcore” de PC/consola (onde as mulheres são cerca de 28% no PC e 22% nas consolas).

⚔️ A fortaleza masculina: géneros dominados por homens

Quando passamos para PC e consolas, para jogos tradicionalmente considerados “hardcore”, o equilíbrio estatístico desaparece imediatamente. É aqui que a vantagem dos jogadores masculinos é mais evidente, ultrapassando frequentemente 70-80% da população de jogadores (ex.: FPS: 66% homens, MOBA: 80-95%).

Géneros em que os homens são a esmagadora maioria:

  • Shooters em primeira pessoa (FPS): (CS2 ~4-7%, Valorant, Call of Duty). Jogos baseados por natureza em competição feroz e reflexos rápidos.
  • MOBA: (League of Legends ~12-14%, Dota 2 ~3-6%). Títulos com alta barreira de entrada, mecânicas complexas e uma comunidade muito competitiva.
  • Simuladores militares/tanques: (World of Tanks, War Thunder). Estes títulos apelam ao interesse pela história militar, mecânica e tática em grande escala.
  • Estratégias avançadas (RTS): (StarCraft II, Age of Empires). Exigem um compromisso prolongado para aprender gestão de recursos e estratégias micro/macro (~5% mulheres).

Por que esta disparidade é tão grande?

Não se trata apenas de preferências pessoais. Também influenciam fatores culturais e sociais:

  • Marketing e representação: historicamente, estes jogos foram vendidos como produtos “para rapazes”, moldando a sua perceção durante décadas.
  • Toxicidade da comunidade: jogos competitivos online, especialmente FPS e MOBA, são famosos pela comunicação tóxica e ódio. As jogadoras são frequentemente vítimas de comentários hostis e misoginia — 59-77% sofrem assédio baseado no género, desencorajando efetivamente o uso do microfone ou o envolvimento a longo prazo (queda de 72% em 2022).
  • Barreira de entrada: a complexidade das mecânicas em jogos como Dota 2 exige dedicar muitas horas à aprendizagem. Se o jogo não for percebido como “para mim”, a motivação para superar essa barreira diminui.

🚀 O futuro do gaming: onde o equilíbrio está a crescer?

Felizmente, o mundo do gaming está a evoluir e há vários géneros em que o equilíbrio de género é muito melhor e continua a melhorar:

  • MMORPG orientados à história: títulos como Final Fantasy XIV (~30-45% mulheres, acima da média MMO) ou Guild Wars 2 oferecem uma rica camada narrativa, opções de personalização e fortes elementos sociais, atraindo uma comunidade mais diversificada.
  • Jogos cooperativos narrativos (Co-op Story): jogos focados na cooperação e experiências partilhadas (It Takes Two, A Way Out).
  • Indie e simuladores: (Stardew Valley, Animal Crossing). Jogos mais calmos, muitas vezes criativos, que apagam completamente as divisões tradicionais de género (~69% mulheres em match-3/casual).

💡 Conclusões

A estatística 50/50 não mente, mas requer interpretação.

As mulheres jogam tanto quanto os homens, mas as suas escolhas de género frequentemente inclinam-se para outras experiências — móveis e casuais.

O problema não é a falta de mulheres no gaming, mas a falta de igualdade na representação nos títulos mais mediáticos e competitivos. Enquanto as comunidades de jogos “hardcore” não se tornarem mais abertas e menos hostis (por exemplo, através de melhor moderação e design inclusivo), estes géneros continuarão a ser principalmente domínio dos jogadores masculinos.